1.Comportamento é comunicação.
Todo comportamento acontece por uma razão. Ele conta para você, mesmo quando as
minhas palavras não podem fazê-lo, como eu percebo o que está acontecendo ao
meu redor. Comportamento negativo interfere no meu processo de aprendizagem.
Entretanto, simplesmente interromper esses comportamentos não é suficiente;
ensine-me a trocá-los por alternativas adequadas de modo que a aprendizagem
real possa fluir. Comece por acreditar nisto: eu verdadeiramente quero aprender
a interagir de forma apropriada. Nenhuma criança quer receber uma bronca por
comportamento negativo. Esse comportamento geralmente quer dizer que eu estou
atrapalhado com sistemas sensoriais desorganizados, não posso comunicar meus
desejos ou necessidades ou não entendo o que se espera de mim. Olhe além do meu
comportamento para encontrar a fonte da minha resistência. Anote o que
aconteceu antes do comportamento: as pessoas envolvidas, hora do dia, ambiente.
Um padrão emerge depois de um período de tempo.
2. Nunca presuma nada.
Sem apoio de fatos uma suposição é apenas uma suposição. Posso não saber ou não
entender as regras. Posso ter ouvido as instruções, mas não ter entendido.
Talvez eu soubesse ontem, mas não consigo me lembrar hoje. Pergunte a si mesmo:
Você tem certeza que eu realmente sei como fazer o que você está me pedindo? Se
de repente eu preciso correr para o banheiro cada vez que preciso fazer uma
folha de matemática, talvez eu não saiba como fazer ou tema que meu esforço não
seja o suficiente. Fique comigo durante repetições suficientes da tarefa até
que eu me sinta competente. Eu posso precisar de mais prática para dominar as
tarefas que outras crianças.
Você tem certeza que eu realmente conheço as regras? Eu entendo a razão para a
regra (segurança, economia, saúde)? Estou quebrando a regra porque há uma
causa? Talvez eu tenha pegado um pedaço do meu lanche antes da hora porque eu
estava preocupado em terminar meu projeto de ciências, não tomei o café da
manhã e agora estou morto de fome.
3. Procure primeiro por problemas sensoriais.
Muitos de meus comportamentos de resistência vêm de desconforto sensorial. Um
exemplo é luz fluorescente, que foi demonstrado muitas vezes ser um problema
para crianças como eu. O som que ela produz é muito perturbador para minha
audição supersensível e o piscar da luz pode distorcer minha percepção visual,
fazendo com os objetos pareçam estar se movimentando. Uma luz incandescente ou
as novas luzes econômicas na minha carteira vai reduzir o piscar Ou talvez eu
precise sentar mais perto de você; não entendo o que você está dizendo porque
há muitos sons “entre nós” – o cortador de grama lá fora, a Maria conversando
com a Lurdes, cadeiras arrastadas, o som do apontador. Peça à terapeuta
ocupacional da escola para dar algumas idéias sensoriais que sejam boas para
todas as crianças, não só para mim.
4. Dê um intervalo para auto regulação antes que eu precise dele
Um canto quieto com carpete, algumas almofadas livros e fones de ouvido me dão
um lugar para me afastar quando preciso me reorganizar sem ser distante demais
que eu não possa voltar para o fluxo de atividades da classe de forma
tranqüila.
5. Diga o que você quer que eu faça de forma positiva ao invés de
imperativa.
“Você deixou uma bagunça na pia!” é apenas a afirmação de um fato para mim.
“Não sou capaz de concluir que o que você realmente quer dizer é: por favor, lave
a sua caneca de tinta e ponha as toalhas de papel no lixo”. Não me faça
adivinhar ou ter de descobrir o que eu devo fazer.
6. Tenha uma expectativa razoável.
Uma reunião de todas as crianças no ginásio de esportes e alguém falando sobre
a venda de balas é desconfortável e sem significado para mim. Talvez fosse
melhor eu ir ajudar a secretária a grampear o jornalzinho.
7. Ajude-me a fazer a transição entre atividades.
Leva um pouco mais de tempo para eu fazer o planejamento motor de ir de uma
atividade para outra. Dê-me um aviso de que faltam cinco minutos, depois dois,
antes de mudar de atividade – e inclua alguns minutos extras no final para
compensar. Um relógio, com o mostrador simples ou um “timer” na minha carteira
pode me dar uma dica visual sobre o tempo para a próxima mudança e me ajudar a
lidar com o tempo mais independentemente.
8. Não torne pior uma situação ruim.
Sei que embora você seja um adulto maduro às vezes você pode tomar decisões
ruins no calor do momento. Eu realmente não tenho a intenção de ter uma crise,
mostrar raiva ou atrapalhar a classe de qualquer outra forma. Você pode me
ajudar a encerrar mais rapidamente não respondendo com um comportamento
inflamatório. Conscientize-se de que estes comportamentos prolongam ao invés de
resolver a crise:
- Aumentar o volume ou tom de voz. Eu escuto os gritos, mas não as palavras.
- Imitar ou caçoar de mim. Sarcasmo, insultos ou apelidos não me deixam sem
graça e não mudam meu comportamento.
- Fazer acusações sem provas.
- Adotar uma medida diferente da dos outros.
- Comparar com um irmão ou outro aluno.
- Lembrar episódios prévios ou não relacionados.
- Colocar-me em uma categoria (“crianças como você são todas iguais)”.
9. Critique gentilmente seja honesta – você gosta de aceitar crítica
construtiva?
A maturidade e auto confiança de ser capaz de fazer isso pode estar muito
distante das minhas habilidades atuais. Você não deveria me corrigir nunca?
Lógico que sim. Mas faça-o gentilmente, de modo que eu realmente consiga ouvir
você.
- Por favor! Nunca, nunca imponha correções ou disciplina quando estou bravo,
frustrado, super- estimulado, ansioso, “ausente” ou de qualquer outra forma que
me incapacite a interagir com você.
- Lembre-se que vou reagir mais à qualidade de sua voz do que às palavras. Vou
ouvir a gritaria e o aborrecimento, mas não vou entender as palavras e
consequentemente não conseguirei descobrir o que fiz de errado. Fale em tom
baixo e abaixe-se para falar comigo, de modo que esteja falando comigo no mesmo
nível.
- Ajude-me a entender o comportamento inadequado de forma que me apóie, me
ajude a resolver o problema ao invés de punir ou me dar uma bronca. Ajude-me a
descobrir os sentimentos que despertaram o comportamento. Posso dizer que
estava bravo mas talvez estivesse com medo, frustrado, triste ou com ciúmes.
Tente descobrir mais que a minha primeira resposta.
- Ajuda quando você está modelando comportamento adequado para responder à
crítica.
10. Ofereça escolhas reais - e apenas escolhas reais.
Não me ofereça uma escolha ou pergunte “você quer...?” a menos que esteja
disposto a aceitar não como resposta. “Não” pode ser minha resposta honesta
para “Você quer ler em voz alta agora? ou você quer usar a tinta junto
com o Pedro?” É difícil confiar em alguém quando as escolhas não são realmente
escolhas.
Você aceita com naturalidade o número enorme de escolhas que faz diariamente.
Constantemente escolhe uma opção sobre outras sabendo que ter escolhas e ser
capaz de escolher lhe dão controle sobre sua vida e futuro. Para mim, escolhas
são muito mais limitadas, e é por isso que pode ser difícil ter confiança em
mim mesmo. Dar-me escolhas freqüentes me ajuda a me envolver mais ativamente na
minha vida diária.
- Sempre que possível, ofereça uma escolha dentro do que tenho de fazer. Ao
invés de dizer: “escreva seu nome e data no alto da página” diga: você gostaria
de escrever primeiro o nome ou a data? Ou “qual você gostaria de escrever
primeiro: letras ou números?”. A seguir diga: “você vê como o Paulo está
escrevendo o nome no papel?”
- Dar escolhas me ajuda a aprender comportamento adequado, mas também preciso
entender que há horas em que você não pode escolher. Quando isso acontecer, não
ficarei tão frustrado se eu entender o por que:
▫ ”não posso deixar você escolher nesta situação porque é perigoso. Você pode
se machucar.
▫ não posso dar essa escolha porque atrapalharia o Sérgio (teria um efeito
negativo sobre outra criança).
▫ eu lhe dou muitas escolhas mas desta vez tem de ser a escolha do adulto.
A última palavra: ACREDITE.
Henry Ford disse: “quer você acredite que pode ou que não pode, geralmente você
está certo”. Acredite que você pode fazer uma diferença para mim. É preciso
acomodação e adaptação, mas autismo é um distúrbio não pré fixado. Não há
limites superiores inerentes para aquisições. Posso sentir muito mais que posso
comunicar e a coisa que mais posso perceber é se você acredita ou não que “eu
posso”. Espere mais e você receberá mais. Incentive-me a ser tudo que posso
ser, de modo que possa seguir o caminho muito depois de já ter saído de sua
classe.
Traduzido de Ellen Notbohm por Heloiza Goodrich, TO
Fonte: http://inclusaobrasil.blogspot.com.br/2010/07/dez-coisas-que-todo-aluno-com-autismo.html